Confinar bois sem volumoso, com baixo consumo alimentar e ainda obter ganho de peso privilegiado e rendimento de carcaça ganha espaço no Brasil
Uma pesquisa realizada e comprovada pela empresa goiana Agrocria, de nutrição animal e sementes, em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Universidade São Marcos, de São Paulo, provou que é possível confinar oferecendo uma dieta sem volumoso, com excelente ganho de peso a um custo baixo. Um sonho de dez entre dez pecuaristas. A pesquisa validou uma técnica pouca explorada no País: a utilização da dieta de alto concentrado para confinamento. O estudo, que faz parte da tese de doutorado de Hélio Lourêdo, da Escola de Veterinária da UFG, reuniu uma equipe de técnicos para por em xeque-mate as antigas questões relativas à cadeia produtiva da carne. Experimento do grão inteiro O experimento realizado na Fazenda Barreiro, localizada no município de Silvânia (GO), reuniu 24 machos Nelore, com 30 meses de idade e peso inicial de 360 quilos (kg), em baias cobertas. Divididos em grupo, os animais receberam dietas diferenciadas (em um período de 90 dias cada um), todas sem volumoso. Como resultado: ganho de peso médio de 1,8 quilo por animal por dia (kg/cabeça/dia) e excelente conversão alimentar (5 kg de matéria seca por quilo de peso vivo). Das dietas, a equipe conseguiu selecionar três tipos: Dieta 1: exclusivamente à base de sorgo moído, caroço de algodão, casca de soja e núcleo peletizado (complemento alimentar fonte de proteínas, vitaminas e sais minerais); Dieta 2: contendo esses ingredientes mais 11% de bagaço in natura de cana (BIN); Dieta 3: composta por 85% de milho-grão inteiro mais 15% de núcleo peletizado. Por fim, a que apresentou resultados excelentes foi a dieta 3, pois apresentou maior ganho de peso: 1,83 kg/cabeça/dia contra 1,37 kg/cabeça/dia do lote tratado com a dieta 1, e 1,80 kg/cabeça/dia dos animais tratados com a dieta 2. Como toda a dieta, em que há riscos de distúrbios digestivos e que requer bastante cuidado no período de adaptação, o comportamento digestivo dos animais foi observado durante o experimento para avaliar o tempo gasto na ruminação, que funciona como medida efetiva da dieta. Segundo os especialistas, nas dietas de alto concentrado, a oferta de fibra aos animais é fundamental. Adaptação do gado ao grão inteiro Por isto, os técnicos ofereceram ao gado fontes de fibras que favoreceram a mastigação, pois ao mastigar o animal produz saliva, um protetor natural do rúmen, que ajuda a evitar a acidose. “Durante a pesquisa, uma das dificuldades em oferecer a dieta sem volumoso foi à adaptação”, explica o médico veterinário Flávio Castro, diretor técnico da Agrocria. “Um boi que está no pasto comendo uma alimentação à base de celulose, mantém no rúmen microrganismos essenciais para a sua digestão. Ao modificar esta dieta, o animal refuga o cocho, pois o rúmen dele não está adaptado. O SEU SISTEMA DIGESTIVO, ATÉ ENTÃO É REGULADO PARA O PREENCHIMENTO TOTAL DO RÚMEN. No experimento, levamos os animais para o pasto, oferecemos braquiária no período de adaptação, entre 15 a 20 dias, com a finalidade de o animal mudar aos poucos à dieta. Oferecemos também ração (com consumo de 1,2 a 1,4% do peso vivo do animal) e durante a adaptação, o pasto acabou e o boi já estava comendo a dieta, sem volumoso”, destaca Flávio. No sistema, os animais são mantidos a pasto com lotação de 30 a 40 cabeças por hectare. O objetivo da alta taxa de lotação é permitir a disponibilidade de forragem, apenas durante a adaptação dos animais à nova dieta. Após o período, os animais permanecem no pasto (piquete) ou em currais de confinamento. A partir daí, é importante ressaltar que não haverá mais forragem disponível. Com isto, são feitos dois tratos diários e o consumo de alimento gira em torno de 8,5 kg/cab/dia (2% de peso vivo) da nova dieta. Com esta nova pesquisa, os especialistas provaram que o milho-grão, além de ser uma boa opção para a engorda no confinamento, é uma dieta democrática, por sua disponibilidade no mercado em relação aos outros produtos, como bagaço de cana ‘in natura’ e pelo baixo preço. “O experimento mostra que é possível oferecer dietas com alto concentrado, do tipo ‘alto grão’, como o milho. Nesta opção, o custo dependerá do preço do grão no mercado, que ainda assim é vantajoso”, explica o responsável pela pesquisa, Hélio Lourêdo. Confinamento com Grão Inteiro da Fazenda São Pedro – Coxim MS / Foto: Bom Peso Nutrição Animal Opção economicamente viável Para a equipe técnica, a vantagem desta dieta é propiciar de vez, que dez entre dez pecuaristas adotem o sistema. Além dos resultados positivos em termos de ganho de peso e conversão alimentar, o confinamento a pasto (como ficou conhecida a pesquisa) requerer pouca estrutura. “Essa é a alternativa viável para o pequeno, o médio e o grande criador, e apresenta inúmeras vantagens. Uma delas é que não há a necessidade de grande volume de mão-de-obra, implementos e máquinas, o que facilita a adoção por parte dos pecuaristas. A nossa intenção é criar também opções para os produtores, especialmente em regiões onde há pouca disponibilidade de volumoso. A mistura da dieta total também é prática. É claro, que necessita de apoio técnico para não haver contratempos”, diz Lourêdo. Custos de produção Em relação aos custos, o experimento aponta que no confinamento convencional, o pecuarista gasta em média até R$ 300 reais por animal. “Neste sistema que nós chamamos de confinamento a pasto, o produtor não precisa de grandes estruturas para confinar. Se o pecuarista quiser começar a confinar agora, ele pode. Então, o que ele precisa? Milho, e em algumas regiões com vocação agrícola, é mais barato. A mistura, que pode ser feita com uma simples pá e colocada no cocho e oferecer água. Este sistema é muito bom e está acessível para qualquer um. O custo é baixo”, diz o médico veterinário, Flávio Castro. No confinamento a pasto, o pecuarista pode: 1) confinar no piquete, acima de 26 cab/ha em média; 2) confinar em currais próprios com 25 cm de cocho, por cabeça; 3) obter lotes uniformes com bom desempenho e acaba-mento adequado. “Muitos perguntam se estamos fazendo o semiconfinamento. Nós, não estamos fazendo. No semiconfinamento são utilizados de um a dois bois por hectare, onde existe pasto disponível o tempo todo. É oferecido de 1,3% de concentrado e a ração é farelada. O ganho de peso em médio é de 700 a 900 gramas”, explica Castro. “No confina-mento a pasto, é possível confinar 40 animais, ou seja, 20 bois a mais por área, com a intenção que a forrageira acabe, já em 20 dias, e a taxa do consumo do milho aumente. No sistema, os animais também comem 2%, sendo que o milho é inteiro e o ganho de peso é em média de 1,7 entre 1,8 kg. Quer resultado prático e melhor que este?”, indaga Flávio Castro. Novilha Angus Confinamento com grão inteiro Bom Peso, 21 meses com 18.75@ / Foto: Bom Peso Nutrição Animal Tira Teima Durante o experimento foram confinados um lote de 60 bois em um período de 70 dias. Os animais entraram pesando 360 kg e após 84 dias (um período até maior ao convencional), com a dieta de alto grão, a média chegou a 480 kg. “Os números poderiam ser maiores uma vez que as chuvas de março atrapalharam a engorda”, diz o médico veterinário, Flávio Castro. Em média foram 40 bois por hectare, com uma média de ganho de peso de 1,8 kg/cab/dia. No semi-confinamento, os animais alcançam 1,5 kg/cab/dia. “É normal dentro deste sistema, ver as forrageiras brotando e o gado não come. À primeira vista o pasto está rasteiro, mas percebemos na pesquisa que a pastagem está feia devido ao pisoteio dos animais. Outra dúvida é quanto a este pisoteio, o receio dos produtores é que acabam matando o pasto. Durante a pesquisa provamos que as fezes e urina funcionam como adubos orgânicos. Após 21 dias, a pastagem está vistosa novamente”, conta o médico veterinário, Flávio Castro. Notícias relacionadas Tamanho de espaço no confinamento influencia no rendimento do rebanho Confinamento no semiárido planeja confinar 100 mil cabeças Especialista explica uso de touros para confinamento e pasto Observações e cuidados O sucesso do tratamento depende de observar algumas dicas práticas que se bem seguidas interfere diretamente no resultado o tratamento e rendimento final, aqui iremos apresentar situações rotineiras neste sistema de confinamento que precisam ser acompanhadas de perto pelo responsável dos animais: O período de adaptação não deverá ser reduzido, sob risco de ocorrência de distúrbios nutricionais; Deixar água ao acesso dos animais a vontade; Após adaptação não disponibilizar volumoso aos animais; Espaçamento de cocho necessário por animal confinado, 40-50 cm; Não deixar faltar alimento no cocho ao longo do dia, nunca ter cocho limpo e buscar sempre uma sobra de 5% da quantidade fornecida no trato anterior; Nunca realizar menos de 2 refeições ao dia; Sempre misturar bem o milho com o concentrado Soma @ Alto Grão; Cuidados especiais devem ser dados a animais debilitados e provenientes de longa viagem; Não fornecer o péllet Soma @ Alto Grrão a equinos, aves e suínos; O animal que não se adaptar ao Sistema, não consumindo o pellet e o milho deve ser retirado do manejo o quanto antes. Manejo e adaptação para retirar o volumoso Adaptação a pasto: 15 dias Manejo do pasto: Dia 1 ao dia 6: Pasto disponível 6 horas por dia; Dia 7 ao dia 10: Pasto disponível 4 horas por dia; Dia 11 ao dia 14: Pasto disponível 2 horas por dia; Dia 15 em diante: fechar os animais no curral de confinamento e oferecer somente o péllet Soma @ Alto Grão e o Milho Grão; Adaptação com volumoso no cocho: 15 dias Iniciar com o fornecimento de 1,5% do peso corporal em Matéria Seca (MS) do volumoso e ir diminuindo 0,25 pontos percentuais deste fornecimento apartir do 5º dia. Dias 1,2,3 e 4 = 1,5% do peso corporal em MS; Dias 5 e 6 = 1,25% do peso corporal em MS; Dias 7 e 8 = 1,0% do peso corporal em MS; Dias 9 e 10 = 0,75% do peso corporal em MS; Dias 11 e 12 = 0,5% do peso corporal em MS; Dias 13 e 14 = 0,25% do peso corporal em MS; Dia 15 em diante fornecer somente o Péllet Soma @ Alto Grão e o Milho em Grão. Exemplo: Animal de 400 kg, precisaria de iniciar com 6,0 kg de volumoso em MS, se usar silagem de milho com 32% de MS, iniciaria com 18,75 kg de silagem em sua matéria natural; Manejo e adaptação da Ração Adaptação tanto a pasto quanto com volumoso picado no cocho: Fazer a mistura com 20% do Soma @ Alto Grão e 80% de Milho Grão e fornecer desta mistura aos animais começando com 0,6% do peso corporal e ir aumentando 0,2 pontos percentuais deste fornecimento a cada dois dias. Dias 1 e 2 = 0,6% do peso corporal; Dias 3 e 4 = 0,8% do peso corporal; Dias 5 e 6 = 1,0% do peso corporal; Dias 7 e 8 = 1,2% do peso corporal; Dias 9 e 10 = 1,4% do peso corporal; Dias 11 e 12 = 1,6% do peso corporal; Dias 13 e 14 = 1,8% do peso corporal; Manejo da Ração – Pós Adaptação Fazer a mistura com 15% do Soma @ Alto Grão e 85% de Milho Grão e fornecer desta mistura aos animais. Dia 15 em diante = Fornecer entre 2,0 e 2,2 % do peso vivo do animal de acordo com a leitura de sobras no cocho a cada trato, lembrando de corrigir o peso corporal em + 1,0 kg ao dia de trato da adaptação e também para os dias subsequentes;